domingo, 25 de agosto de 2013

“ENTRE A LIBERDADE E A FELICIDADE, A MODERNIDADE ESCOLHEU A LIBERDADE” (HABERMAS); CONTRASTES ENTRE ARISTÓTELES E KANT.

A modernidade em contraposição aos conceitos advindos da Idade Média e sua obscuridade, eleva o conhecimento no sentido de revelar que existe um melhor caminho para o conhecimento: o racionalismo (a razão). Esta razão que abriu caminho para novas interpretações filosóficas sobre a realidade do mundo ocidental.
O mundo medieval, marcado pela religiosidade (cristã e pagã) proporcionou relações sociais com base na busca pelo conhecimento (ou não), a fim de se encontrar a felicidade como fim, quer ela seja terrena ou extraterrena. Nesse caso, vê-se a integração de influências aristotélicas na busca de uma felicidade; “combatida” nos moldes que era posta, nos tempos ulteriores e modernizadores.
Aristóteles em seus escritos passa por vários temas que se apresentavam em sua realidade. Nela buscava encontrar respostas dentro das possibilidades da época. Em Ética à Nicômaco, Aristóteles deixa expresso suas ideias para que uma pessoa seja feliz na vida e no mundo que o cerca, delineando fundamentos para se chegar a tal patamar.
O filósofo traça seu pensamento em um fim último, “o fim dos fins”, o fim supremo, aquele que acima de todos os outros fins: a felicidade, ou antes, a busca dela. Para ele, a realidade se trata de um movimento de realização, realização esta, teleológica (finalista); baseada em um princípio único, senão último: o movimento em busca da felicidade.
A felicidade (ou sua busca) é o bem maior. Este que só é possível se alcançar, através de um movimento diuturno na construção de um “agir-bem”, de ser prudente, de estabelecer sempre uma espécie de “meio-termo” integrado às decisões das pessoas. E isso só poderia acontecer com a busca por um hábito, da sua construção e manutenção de formas de “agir-bem”.
Outro postulado aristotélico diz que a felicidade é final (fim dos fins) e autossuficiente (é desejável por si, independentemente). E que nessa busca incessante, perpassa pela excelência nos modos para agir. Para o “grego”, a excelência seria o pico do movimento na busca da felicidade, contudo não o seu término. A felicidade depende da criação de hábitos de excelência para alcançá-la e mantê-la. A excelência moral é produto do hábito, e não inata. Através da construção de “excelentes” hábitos, que é possível ao homem, controlar sua natureza: quanto melhores forem as escolhas, melhor será a criação do hábito e por conseguinte, haveria um acréscimo na excelência moral.
Para o pensador, é melhor ser prudente do que ser moral, isto é, nem sempre a extrema/radical moralidade é o melhor caminho na busca de um “bem-agir”. Recomenda-se ser prudente; ser feliz; não ser radical, mas no entrechoque de ideias opostas, alcançar a melhor resposta para a ação. E por isso um hábito de “agir-bem” “(...) é necessário para encontrar-se com o bem final: a felicidade.”(Aristóteles)
“Contudo, a modernidade não aceitou muito bem essa busca pela felicidade. Segundo Habermas, “Entre a liberdade e a felicidade, a modernidade escolheu a liberdade.”
A partir da sentença, utilizo Kant para ilustrar o assunto com suas ideias sobre o ser humano, que agora tratado como indivíduo, prefere a liberdade à felicidade. Kant luta pela autonomia racional do homem, pela sua emancipação e busca um melhor entendimento da realidade baseado não em uma busca por um “fim dos fins” (felicidade), mas sim de uma razão através de uma moral inerente a pessoa.
Kant, primeiramente, divide o conhecimento racional entre formal: lógica; e Material: Física e Ética. Esta última ainda, separada entre Metafísica dos Costumes e Antropologia Prática.
Para o moderno, existe sempre ao homem uma impressão que a razão insinua algo que devamos fazer. Ele então delineia logicamente: “Se devo, posso”. Para Kant, a liberdade é a capacidade do indivíduo de se autodeterminar.
Nossa razão segundo Kant, comanda-se através de imperativos: Hipotético (SE-ENTÃO) e Categórico (quando o fim se encerra nele mesmo). Segundo Luchi, “Os imperativos hipotéticos comandam, condicionalmente, e tem uma forma geral ‘se queres... deves; (...) os imperativos categóricos são incondicionais: deves porque deves.”
A lei moral kantiana, a partir de imperativos, chegam à máximas que são os princípios subjetivos da ação. Para Kant, o homem deve agir “(...) de tal modo que a máxima de tua ação possa valer universalmente.”
“A razão é a faculdade de pensar os fins” (KANT). Segundo Luchi,
“Para Kant a lei moral (o dever) é uma lei da autonomia: o sujeito se dá a si mesmo tal lei e obedecendo-a é livre. A liberdade pode ser entendida negativamente como ausência de constrição exterior. Ou positivamente como a autodeterminação segundo uma lei universal.”
A autonomia do indivíduo é necessária para a construção de uma lei racional-moral universal; e esta autonomia fundamenta-se na liberdade, e não na felicidade. Para Kant, o único princípio das leis morais e seus deveres advém da “autonomia da vontade”. Em contrário, a heteronomia não só deixa de lado a fundamentação de quaisquer obrigações por parte do indivíduo, como também torna obscura toda construção racional em torno do pensamento.
Em sua concepção, ele aponta que a decisão moral última é do próprio homem e que o agir se determina por si baseado numa lei moral. Para ele toda a heteronomia impossibilita a moralidade e consequentemente a liberdade, enquanto a autonomia seria o principal alicerce de libertação.
Então contrastando as ideias de Aristóteles e Kant sobre a moral, ética, conhecimento, etc., a modernidade prefere Kant. Não só por sua contemporaneidade, mas também porque havia uma necessidade urgente de se desprender de antigos paradigmas. Luchi, ao tratar ideias kantianas traduz que: “O homem virtuoso, que age segundo a lei moral, nem sempre é feliz, mas é digno de felicidade.” Toda essa transformação no pensamento moderno que possibilitou a sociedade (ocidental) na qual vivemos atualmente (para o bem e para o mal); e concordando com Kant e a modernidade, também prefiro a liberdade.

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