A modernidade em contraposição
aos conceitos advindos da Idade Média e sua obscuridade, eleva o conhecimento
no sentido de revelar que existe um melhor caminho para o conhecimento: o
racionalismo (a razão). Esta razão que abriu caminho para novas interpretações
filosóficas sobre a realidade do mundo ocidental.
O mundo medieval, marcado pela
religiosidade (cristã e pagã) proporcionou relações sociais com base na busca
pelo conhecimento (ou não), a fim de se encontrar a felicidade como fim, quer
ela seja terrena ou extraterrena. Nesse caso, vê-se a integração de influências
aristotélicas na busca de uma felicidade; “combatida” nos moldes que era posta,
nos tempos ulteriores e modernizadores.
Aristóteles em seus escritos
passa por vários temas que se apresentavam em sua realidade. Nela buscava
encontrar respostas dentro das possibilidades da época. Em Ética à Nicômaco,
Aristóteles deixa expresso suas ideias para que uma pessoa seja feliz na vida e
no mundo que o cerca, delineando fundamentos para se chegar a tal patamar.
O filósofo traça seu pensamento
em um fim último, “o fim dos fins”, o fim supremo, aquele que acima de todos os
outros fins: a felicidade, ou antes, a busca dela. Para ele, a realidade se
trata de um movimento de realização, realização esta, teleológica (finalista);
baseada em um princípio único, senão último: o movimento em busca da
felicidade.
A felicidade (ou sua busca) é o bem
maior. Este que só é possível se alcançar, através de um movimento diuturno na
construção de um “agir-bem”, de ser prudente, de estabelecer sempre uma espécie
de “meio-termo” integrado às decisões das pessoas. E isso só poderia acontecer
com a busca por um hábito, da sua construção e manutenção de formas de
“agir-bem”.
Outro postulado aristotélico diz
que a felicidade é final (fim dos fins) e autossuficiente (é desejável por si,
independentemente). E que nessa busca incessante, perpassa pela excelência nos
modos para agir. Para o “grego”, a excelência seria o pico do movimento na
busca da felicidade, contudo não o seu término. A felicidade depende da criação
de hábitos de excelência para alcançá-la e mantê-la. A excelência moral é
produto do hábito, e não inata. Através da construção de “excelentes” hábitos,
que é possível ao homem, controlar sua natureza: quanto melhores forem as
escolhas, melhor será a criação do hábito e por conseguinte, haveria um
acréscimo na excelência moral.
Para o pensador, é melhor ser
prudente do que ser moral, isto é, nem sempre a extrema/radical moralidade é o
melhor caminho na busca de um “bem-agir”. Recomenda-se ser prudente; ser feliz;
não ser radical, mas no entrechoque de ideias opostas, alcançar a melhor
resposta para a ação. E por isso um hábito de “agir-bem” “(...) é necessário
para encontrar-se com o bem final: a felicidade.”(Aristóteles)
“Contudo, a modernidade não
aceitou muito bem essa busca pela felicidade. Segundo Habermas, “Entre a
liberdade e a felicidade, a modernidade escolheu a liberdade.”
A partir da sentença, utilizo
Kant para ilustrar o assunto com suas ideias sobre o ser humano, que agora
tratado como indivíduo, prefere a liberdade à felicidade. Kant luta pela
autonomia racional do homem, pela sua emancipação e busca um melhor
entendimento da realidade baseado não em uma busca por um “fim dos fins”
(felicidade), mas sim de uma razão através de uma moral inerente a pessoa.
Kant, primeiramente, divide o
conhecimento racional entre formal: lógica; e Material: Física e Ética. Esta
última ainda, separada entre Metafísica dos Costumes e Antropologia Prática.
Para o moderno, existe sempre ao
homem uma impressão que a razão insinua algo que devamos fazer. Ele então
delineia logicamente: “Se devo, posso”. Para Kant, a liberdade é a capacidade
do indivíduo de se autodeterminar.
Nossa razão segundo Kant,
comanda-se através de imperativos: Hipotético (SE-ENTÃO) e Categórico (quando o
fim se encerra nele mesmo). Segundo Luchi, “Os imperativos hipotéticos
comandam, condicionalmente, e tem uma forma geral ‘se queres... deves; (...) os
imperativos categóricos são incondicionais: deves porque deves.”
A lei moral kantiana, a partir de
imperativos, chegam à máximas que são os princípios subjetivos da ação. Para
Kant, o homem deve agir “(...) de tal modo que a máxima de tua ação possa valer
universalmente.”
“A razão é a faculdade de pensar
os fins” (KANT). Segundo Luchi,
“Para Kant a lei moral (o dever)
é uma lei da autonomia: o sujeito se dá a si mesmo tal lei e obedecendo-a é
livre. A liberdade pode ser entendida negativamente como ausência de constrição
exterior. Ou positivamente como a autodeterminação segundo uma lei universal.”
A autonomia do indivíduo é
necessária para a construção de uma lei racional-moral universal; e esta autonomia
fundamenta-se na liberdade, e não na felicidade. Para Kant, o único princípio
das leis morais e seus deveres advém da “autonomia da vontade”. Em contrário, a
heteronomia não só deixa de lado a fundamentação de quaisquer obrigações por
parte do indivíduo, como também torna obscura toda construção racional em torno
do pensamento.
Em sua concepção, ele aponta que
a decisão moral última é do próprio homem e que o agir se determina por si
baseado numa lei moral. Para ele toda a heteronomia impossibilita a moralidade
e consequentemente a liberdade, enquanto a autonomia seria o principal alicerce
de libertação.
Então contrastando as ideias de
Aristóteles e Kant sobre a moral, ética, conhecimento, etc., a modernidade
prefere Kant. Não só por sua contemporaneidade, mas também porque havia uma
necessidade urgente de se desprender de antigos paradigmas. Luchi, ao tratar
ideias kantianas traduz que: “O homem virtuoso, que age segundo a lei moral,
nem sempre é feliz, mas é digno de felicidade.” Toda essa transformação no
pensamento moderno que possibilitou a sociedade (ocidental) na qual vivemos
atualmente (para o bem e para o mal); e concordando com Kant e a modernidade,
também prefiro a liberdade.
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