O Estado Democrático de Direito é uma
conquista construída historicamente para proporcionar uma maior igualdade entre
as pessoas de um Estado; maior possibilidade dos sujeitos de desenvolverem suas
personalidades; aumentar a participação política das pessoas na divisão do
poder; garantir a defesa dos sujeitos perante a força estatal; etc.
O Estado Democrático de Direito, possui
fundamentos muito fortes quanto aos direitos individuais, fundamentais e
humanos. Esses direitos geralmente são positivados nos códigos constitucionais,
garantidos por fortes leis para proporcionar o desenvolvimento das sociedades
liberais de economia capitalista em maior ou menor grau.
Contudo, parece-me que na verdade a
intenção mesmo é proteger somente um direito. O direito à riqueza. Vagamente
colocado porque as sociedades evoluem seus conceitos sobre riqueza, e sobre
qual item legal focam suas forças legislativas para proteger suas
possibilidades de se desenvolver. Mas lembrando que nem sempre as sociedades
pregam esse verbo desenvolver em sentido geral, focando mais no desenvolvimento
econômico.
Totalmente coerente com a doutrina liberal
que combatia monarcas absolutos que impediam o livre desenvolvimento de sua classe
social. Porém, devido à exageros cometidos no século XIX e XX, mais direitos
individuais e fundamentais foram positivados nos códigos constitucionais, bem
como direitos humanos mais amplos foram declarados em nível internacional para
balizar a proteção das pessoas hipossuficientes.
Basicamente, o conceito hoje empregado
para desenvolvimento pessoal no ocidente é o desenvolvimento econômico.
Infelizmente é difícil todos possuírem contas bancárias abastadas ou
propriedades inúmeras que proporcionem um padrão confortável, elevado e luxuoso
como almejado por muitos. Infelizmente há de se buscar novas formas de
desenvolvimento pessoal.
Então repito que o maior direito protegido
atualmente e muitos séculos atrás. É o direito à riqueza. Hoje podemos dizer
que é predominantemente o capital financeiro, antes metais preciosos, meios de
produção, recursos, terras, propriedades em geral, etc. O conceito de riqueza
varia de acordo com as sociedades e tempos históricos. Mas ainda me parece que
é o maior bem protegido.
Em detrimento de outros direitos, a busca
pela riqueza de forma desenfreada, tem causado o atropelamento de muitos outros
direitos largamente positivados pelo mundo. Desde os direitos mais basilares
como educação, segurança e saúde, até o direito a vida e liberdade que afetam
diretamente a integridade física das pessoas. Estão surgindo sérios
desequilíbrios na distribuição de justiça e do sentimento de justiça no mundo
ocidental ou ocidentalizado. O modus operandi da sociedade de consumo não está
atendendo aos anseios da sociedade que ao menos possui os meios mínimos de
sobrevivência como moradia segura e alimentação.
Estamos vivenciando a crise do Estado
Democrático de Direito. As ideias extremistas de diminuição de direitos, de
retirada de conquistas sociais como hospitais públicos, educação públicas vem
sendo atacadas há décadas. A sociedade almeja uma solução, e ela não está vindo
com esse modelo. Os casos de corrupção são aparentes em todos os Estados, uns
com índices pequenos outros com situações insustentáveis. A interferência entre
os poderes (executivo, legislativo e judiciário) é uma prática recorrente
daquelas pessoas que o estão exercendo. O modelo de Estado não está se
sustentando por si só e sua capacidade de adaptação está diminuindo com o decorrer
das décadas.
Provou-se que o aumento dos direitos
sociais causou o aumento dos custos da máquina pública, desde fatores lícitos
até ilícitos. Provou-se também que a flexibilização dos direitos sociais também
não trouxeram benefício algum, porque os direitos que já eram poucos, caíram no
esquecimento. Infelizmente não vejo solução até o momento, a não ser uma
mudança de concepção geral de como lidar com o mundo que nos cerca.
Enxergando que existem direitos
historicamente conquistados por nossos antepassados, devemos caminhar para a
ampliação dos mesmos, e em hipótese alguma, permitir a revogação dos mesmos.
Precisamos de uma solução e essa solução não é aumentar o consumo. Não é
exacerbar o “direito à riqueza”. Mas sim mediar o quanto “rico” e quais
“riquezas” queremos ser e quão intrinsecamente saudáveis para o ser humano
individual e coletivizado isso é.
Vê-se que não está dando certo, mas o que
é melhor? Eu sinceramente ainda não sei. O Estado Democrático de Direito ainda
é um modelo político social novo, diferentemente de modelos como feudalismo e
monarquias antigas que duraram séculos, até milênios, e outros modelos que
ruíram, como o socialismo soviéticos, ditaduras, ditaduras totalitárias,
absolutismos, despotismos, etc.
Talvez o Estado Democrático de Direito
ainda esteja se adaptando às transformações sociais, científicas, políticas,
etc., do ser humano. Talvez ainda está se acomodando às novas pulsões sociais e
novamente se readaptará e sobreviverá mantendo seus formatos liberais em maior
ou menor grau, e consumistas em maior ou menor grau.
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