sábado, 6 de julho de 2013

A inserção do "pobre" em protestos

Nas últimas semanas, o Brasil tem passado por acontecimentos muito importantes para a politização de muitas camadas sociais. A partir de um movimento pedindo a diminuição de tarifas de transporte público em São Paulo, que foi rechaçada a partir da atuação coercitiva do governo do mesmo estado, as pessoas começaram a se atentar em se manifestar. Só que as pessoas não mais estavam se manifestando só por diminuição de passagens, ou passe livre, agora estavam lutando por demandas mais gerais, como reprovação de Projetos de Emenda Constitucionais (PEC), contra a corrupção exacerbada, contra os gastos e transtornos e sem retornos sociais com a copa no país, a favor da liberdade de expressão sexual, dentre outras demandas nacionais e locais.
A proporção que estes protestos tomaram foi muito grande, fugindo em princípio até ao controle do próprio Estado. Isso porque através da incapacidade do Estado de impedir o acontecimento das manifestações, da participação de grupos violentos, da revolta geral em torno da situação acrítica em que o país passa - acrítica porque as coisas estão acontecendo e nenhuma pessoa se movimenta para lutar.
Contudo, a grande comoção popular, a meu ver se deu a partir da sutil se não, clara, mudança de direcionamento dos veículos midiáticos brasileiros. Estes que, parecendo quererem fazer uma mea culpa, buscaram descriminalizar os movimentos sociais e transformá-los em movimentos patrióticos, que buscam o bem comum da nação, e muitos outros discursos prontos.
Então o movimento ganhou massa, não sei se impulsionado pelo sentimento patriótico construído numa época de ditadura (futebol), ou pela divulgação destes pelas mídias correntes. Porém, essa massa, continha grupos radicais, extremistas, fundamentalistas, fascistas, neonazistas, e muito mais grupos com ideias perigosas a sociedade.
E uma grande peculiaridade do movimento atual foi a falta de uma grande liderança ou sequer alguma liderança nas manifestações, levando-as a consequências totalmente imprevisíveis. Na minha humilde opinião, uma grande ideia, porém frágil, já que sem uma liderança, qualquer movimento social tem a possibilidade de se enfraquecer pela falta de foco nos objetivos da luta política.
Outro aspecto importante foi o uso das redes sociais para se organizar os protestos. Uma ideia genial, porém frágil, já que facilmente pode ser obstruído o acesso às redes sociais em qualquer nação do mundo.
Essas e outras informações supracitadas, podem ser encontradas em qualquer lugar da internet, e até com maior exatidão do que eu expus aqui.
Onde quero chegar nessa publicação, é no lugar comum em que todos buscam sua politização. Partindo deste pressuposto, vou falar das manifestações ocorridas em meu estado, Espírito Santo, mais especificamente, Vitória, onde acompanhei a maior manifestação social em sua história. Em princípio, pensei que seria uma boa experiência, porque estava ali para representar a luta do cidadão brasileiro e de minha classe trabalhadora. Entretanto, o que vivenciei, não foi uma grande experiência política, um movimento social, ou manifestação; o que vivenciei foi uma passeata, e apenas isto. Digo isso com pesar, porque minhas expectativas se frustraram a encontrar camadas sociais que sequer são politizadas, e dentre elas dos indivíduos que são, não concordo com seu direcionamento político. Um movimento dito democrático, mas que odeia partidos políticos; democrático, mas que odeia lideranças; democrático, mas violento; democrático, mas cala a voz de quem discorda de algo; democrático, mas sem bandeira; etc. A passeata estava até com vendedores ambulantes de bebidas alcoólicas. Aconteceu como a mídia veiculou, uma grande festa cobrando mais direitos a população. Enfim, depois do choque, me inseri nas brincadeiras, e até cantos de futebol foram entoados, já que nem músicas foram criadas para o momento. O objetivo do dia era chegar a nossa Assembleia Legislativa. Chegamos e nada! Sem objetivo fomos, chegamos, e nesse momento encaminhei-me a minha residência, decepcionado com a falta de consciência política no movimento.
Depois de um apanhado superficial, chego ao ponto que eu queria: as camadas “pobres”. Estes que sempre foram marginalizados, estigmatizados, hostilizados, excluídos dos processos políticos, etc., passaram a participar dos movimentos. Isso também ocorreu em estados além do meu. Essa participação alijada de consciência política trouxe a tona o sentimento de violência e descontrole social. As pessoas pobres de pensamento político, foram, participaram, e do mesmo modo em que se apresentaram, saíram, sem nenhum aprendizado político, apenas a repetição de ideias e conceitos muitas vezes, até perigosos, aparecendo até conceitos nazistas. Os pobres de espírito, aproveitando-se da fragilidade do aparato de controle social, realizaram saques, roubos, arrastões, e vários ataques criminosos nas cidades em que ocorreram grandes manifestações. E os pobres financeiramente, que reivindicam melhores condições para suas mazelas sociais.
Todavia, assisti a grupos chamados de “grupos pequenos e isolados de vândalos” pela grande mídia, que atacavam com ira, todo e qualquer patrimônio que avistavam. E é sobre esse grupo especificamente que quero discutir. Assistindo pessoalmente a um desses “movimentos”, vi um perfil totalmente diferente e que nunca antes tinha visto em manifestações. Pessoas de classe social menos favorecida protestando. Porém, não vi muitos entendendo a gravidade da situação. Inclusive havia muitas crianças, adolescentes e poucos adultos representando esses grupos. E uma das manifestações, a demonstração de revolta foi totalmente desproporcional à situação a que se apresentava. Após ação dispersiva, muitos jovens começaram a depredar tudo que viam pela frente, porém sem motivos políticos diretos para tanto.
Eu vi o ódio nos olhos daqueles cidadãos. Eu vi uma revolta sem tamanho contra um aparato coercivo; e vi a falta de medo perante a ameaça de coerção física deste. Assisti a um enfrentamento direto entre manifestantes e governo. Assustei-me pela primeira vez em minha vida com a falta de politização das pessoas, que estavam fazendo o que desejavam, mas sem motivos aparentes. E nesses motivos que não estão aparentes que quero tentar aprofundar.
A motivação para se cometer algum ato, nem sempre é transparente. Seguindo uma ordem crítica, percebo que a raiva, ódio, revolta, apresentada em alguns manifestantes, remonta à muitas outras revoltas, como na Inglaterra, no século XIX, em que trabalhadores revoltosos quebram as máquinas em que trabalham, contra a exploração em que viviam. Alio esse pensamento à revolta dos manifestantes exacerbadamente violentos, e sem motivos aparentes. Eu penso na revolta contra a opressão social em que vivem, na qual a violência se tornou banal, os recursos escassos são comuns, e a falta de segurança geral é constante, a educação é precária, a saúde inexiste, e o saneamento básico muito menos, dentre outras ausências e faltas que o Estado não consegue e não quer suprir. Eu enxergo um desespero social em lutar pela sobrevivência, lutar por melhores condições de vida, ou até mesmo buscar um lazer deturpado no embate com a polícia. Eu vi pessoas tolidas de muitos caracteres de um cidadão autônomo e consciente da situação em que vive. Mas vi também pessoas aliadas a uma luta contra a exclusão em que vivem. Então infiro que apesar da violência desses grupos radicais, radicalizados, e até infiltrados, são reflexos da grandiosidade dos movimentos sociais que estão ocorrendo nas últimas semanas. Que possuem tamanha magnitude que atingiu a consciência das camadas menos abastadas da sociedade. Camadas que já não lutam só contra corrupção, reforma política, menos tributos, etc., mas lutam por direitos básicos, que não lhe são disponibilizados.
Excluindo os criminosos que se aproveitam da precariedade do aparato de segurança, que prioriza a coerção de protestos em detrimento da segurança geral, todos os cidadãos tem que exercer seus direitos, e todos devem aproveitar o momento para se politizar. O vandalismo sem objetivo é apenas depredação de algo, mas também é uma revolta contra uma sociedade que não representa essas pessoas.

Por fim, a sociedade brasileira passa por um amadurecimento político que deve ser canalizado para a construção de uma autonomia do ato de pensar dos indivíduos.  Todos devem ser reconhecidos, e dados seus espaços e suas análises de como protestam, porque protesto, para que protestam e para quem protestam. E as camadas sociais antes excluídas até dos processos políticos, devem ser incluídas para que também se politizem e que suas demandas sociais também sejam ouvidas, e assim se construir uma democratização de suas realidades e suas mazelas.

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