Recém saídos de uma ditadura militar, por muitos chamados de
um movimento revolucionário, mas na concepção geral e majoritária considerada
como uma ditadura (e ruim como todas as outras que ocorrem e já ocorreram pela
história humana), o Brasil vive momentos de instabilidade e incertezas, com
fortes pressões populares pedindo por mudanças nos sistemas sociais
brasileiros, quer sejam políticos, quer sejam valores acerca da justiça, da
moralidade, etc. A sociedade quer um basta principalmente ao não retorno de
todo seu esforço laboral para manter o país, gerando riquezas, paz social e
pagando impostos; porém sofrendo com a falta de segurança, falta de tratamentos
dignos de saúde, falta de locais adequados para se educar, instruir e se
capacitar, falta de ambientes e momentos de lazer, etc., o brasileiro não está
vendo qualquer contrapartida daqueles que estão no poder para com seu esforço
individual para colaborar por um “bem maior”.
Contudo, junto com toda essa indignação coerente, surgem
ideias incoerentes e perigosas. Nesses últimos dias ouço muito falar em
impeachment da presidente (sequer cometeu algum crime grave para tanto), em
fechar o congresso (e não apenas fazer uma devassa nos que tem ficha suja, e
que foram eleitos mesmo assim), em deixar o presidente do STF comandar o país
como déspota, mudar a constituição, mudar leis, retirar direitos de proteção ao
cidadão, etc., mas o pior de todos que ouvi foi a vontade de alguns de que se
retornasse os tempos da nossa ditadura, na qual sequer podia-se pensar, porque
se ousasse contrapor quaisquer ideias, estaria passível de uma sanção, que
poderia perpassar desde prisões arbitrárias até situações que violam vários
direitos, principalmente os direitos humanos tão defendidos em muitas
sociedades evoluídas.
Percebo que a ideia ainda é latente na consciência das
pessoas, apresentando-se como possibilidade para ordenar um pequeno caos,
maximizado pelas grandes mídias sensacionalistas, assustadas com a dimensão de
que os movimentos populares poderiam tomar. Existe um medo de uma elite e de
uma dita por mim pseudoelite de perder seu poder, quer seja político,
financeiro ou simbólico. A ideia da tirania como resolução do caos, é no mínimo
estranha, porque mal temos pouco mais de 20 anos de constituição federal, e já
estão querendo tolir um dos poderes do livre processo democrático.
Sim, nós brasileiros escolhemos mal nossos representantes.
Temos as mesmas elites dominando nosso país desde antes dos militares tomarem o
poder, se é que tomaram algum poder; porque essas elites permeiam os espaços de poder
no Brasil por décadas, se não séculos. Entretanto, o brasileiro parece que se
atentou aos erros do passado e passou a criticizar suas próprias decisões, e
elevar o discurso político levando-o para as ruas, causando toda essa dimensão
do que está se alarmando nas mídias.
Focando no tema central do texto, que é o sentimento latente
do desejo de um golpe, busco entender o porque das pessoas ainda tomarem o
Golpe de Estado como alternativa para a manutenção da ordem, seja ela qual for.
Parece-me que o livre manifestar incomoda algumas pessoas. O livre pensar
incomoda. A autonomia das pessoas incomoda. A não vinculação à ideias dominantes,
aos postulados vigentes, as injustiças justificadas, incomoda. Percebo no
discurso de muitas dessas pessoas, se não todas, um grande incomodo com o
questionamento das ordens vigentes. Como se devêssemos aceitar tudo o que está
ao nosso redor como posto e não questioná-lo. E que quando questionados esses
postulados, deve-se fechar o diálogo através de um golpe.
Eu acredito no grande equívoco dessas pessoas em desejarem
um golpe. Porque o golpe concentra o poder em algum grupo, e o grupo de poder
não seria o dos militares por exemplo, que seriam as pessoas ordenadas para
manutenção da ordem e integridade de nosso país, com uma missão de
manter a união de todos os estados numa federação buscando a paz entre as
pessoas. Uma ilusão pensar que militares tem tanto poder assim. Isso porque por
mais armas que tenham, essas armas custam dinheiro, e o dinheiro advém de
recursos financeiros e estes de pessoas com
poder monetário grande, mas que também exigem contrapartidas.
Logo, reafirmo o equívoco, porque a sensação de ordem na
ditadura é grande, porque a mesma é mantida a partir do medo à violência, do
terror psicológico à torturas, dos abusos de poder à própria tirania.
Concentrar o poder nas mãos de um só grupo não é benéfico numa sociedade tão
multifacetada como a brasileira. O golpe seria um retrocesso para nosso país e
não há como essas pessoas que o desejam não admitirem que o país evoluiu em
todas as esferas sociais. Não devemos abandonar a democracia no primeiro embate
político, devemos a partir do embate, amadurecê-la, para que suas instituições
se fortaleçam, e que a liberdade das pessoas não sejam determinadas pelas mãos
de poucos tiranos que desejam somente saciar seus próprios desejos de poder.
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