quarta-feira, 10 de julho de 2013

Golpe, um sentimento ainda latente

Recém saídos de uma ditadura militar, por muitos chamados de um movimento revolucionário, mas na concepção geral e majoritária considerada como uma ditadura (e ruim como todas as outras que ocorrem e já ocorreram pela história humana), o Brasil vive momentos de instabilidade e incertezas, com fortes pressões populares pedindo por mudanças nos sistemas sociais brasileiros, quer sejam políticos, quer sejam valores acerca da justiça, da moralidade, etc. A sociedade quer um basta principalmente ao não retorno de todo seu esforço laboral para manter o país, gerando riquezas, paz social e pagando impostos; porém sofrendo com a falta de segurança, falta de tratamentos dignos de saúde, falta de locais adequados para se educar, instruir e se capacitar, falta de ambientes e momentos de lazer, etc., o brasileiro não está vendo qualquer contrapartida daqueles que estão no poder para com seu esforço individual para colaborar por um “bem maior”.
Contudo, junto com toda essa indignação coerente, surgem ideias incoerentes e perigosas. Nesses últimos dias ouço muito falar em impeachment da presidente (sequer cometeu algum crime grave para tanto), em fechar o congresso (e não apenas fazer uma devassa nos que tem ficha suja, e que foram eleitos mesmo assim), em deixar o presidente do STF comandar o país como déspota, mudar a constituição, mudar leis, retirar direitos de proteção ao cidadão, etc., mas o pior de todos que ouvi foi a vontade de alguns de que se retornasse os tempos da nossa ditadura, na qual sequer podia-se pensar, porque se ousasse contrapor quaisquer ideias, estaria passível de uma sanção, que poderia perpassar desde prisões arbitrárias até situações que violam vários direitos, principalmente os direitos humanos tão defendidos em muitas sociedades evoluídas.
Percebo que a ideia ainda é latente na consciência das pessoas, apresentando-se como possibilidade para ordenar um pequeno caos, maximizado pelas grandes mídias sensacionalistas, assustadas com a dimensão de que os movimentos populares poderiam tomar. Existe um medo de uma elite e de uma dita por mim pseudoelite de perder seu poder, quer seja político, financeiro ou simbólico. A ideia da tirania como resolução do caos, é no mínimo estranha, porque mal temos pouco mais de 20 anos de constituição federal, e já estão querendo tolir um dos poderes do livre processo democrático.
Sim, nós brasileiros escolhemos mal nossos representantes. Temos as mesmas elites dominando nosso país desde antes dos militares tomarem o poder, se é que tomaram algum poder; porque essas elites permeiam os espaços de poder no Brasil por décadas, se não séculos. Entretanto, o brasileiro parece que se atentou aos erros do passado e passou a criticizar suas próprias decisões, e elevar o discurso político levando-o para as ruas, causando toda essa dimensão do que está se alarmando nas mídias.
Focando no tema central do texto, que é o sentimento latente do desejo de um golpe, busco entender o porque das pessoas ainda tomarem o Golpe de Estado como alternativa para a manutenção da ordem, seja ela qual for. Parece-me que o livre manifestar incomoda algumas pessoas. O livre pensar incomoda. A autonomia das pessoas incomoda. A não vinculação à ideias dominantes, aos postulados vigentes, as injustiças justificadas, incomoda. Percebo no discurso de muitas dessas pessoas, se não todas, um grande incomodo com o questionamento das ordens vigentes. Como se devêssemos aceitar tudo o que está ao nosso redor como posto e não questioná-lo. E que quando questionados esses postulados, deve-se fechar o diálogo através de um golpe.
Eu acredito no grande equívoco dessas pessoas em desejarem um golpe. Porque o golpe concentra o poder em algum grupo, e o grupo de poder não seria o dos militares por exemplo, que seriam as pessoas ordenadas para manutenção da ordem e integridade de nosso país, com uma missão de manter a união de todos os estados numa federação buscando a paz entre as pessoas. Uma ilusão pensar que militares tem tanto poder assim. Isso porque por mais armas que tenham, essas armas custam dinheiro, e o dinheiro advém de recursos financeiros e estes de pessoas com poder monetário grande, mas que também exigem contrapartidas.
Logo, reafirmo o equívoco, porque a sensação de ordem na ditadura é grande, porque a mesma é mantida a partir do medo à violência, do terror psicológico à torturas, dos abusos de poder à própria tirania. Concentrar o poder nas mãos de um só grupo não é benéfico numa sociedade tão multifacetada como a brasileira. O golpe seria um retrocesso para nosso país e não há como essas pessoas que o desejam não admitirem que o país evoluiu em todas as esferas sociais. Não devemos abandonar a democracia no primeiro embate político, devemos a partir do embate, amadurecê-la, para que suas instituições se fortaleçam, e que a liberdade das pessoas não sejam determinadas pelas mãos de poucos tiranos que desejam somente saciar seus próprios desejos de poder.

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