Fala-se
muito em direitos humanos, em relação aos cidadãos, à manifestantes, a todos
que sofrem qualquer ato coercitivo desproporcional de algum agente estatal.
Contudo o contrário nunca se fala, onde estão os direitos humanos para os
agentes de segurança pública?
A
ditadura teve seu fim decretado totalmente com a promulgação da Constituição
Federal de 1988. Mas ela acabou (a ditadura), e as pessoas que antes reprimiam
toda e qualquer manifestação contrária ao Estado, continuaram existindo,
algumas inclusive continuaram trabalhando e atuando em suas profissões. Estes
que continuaram foram os que treinaram os próximos e perpetuaram sua cultura
violenta.
Foco
agora nas instituições militares estaduais. Estas que na década de 1990, ainda
sofriam com métodos de treinamento violentos e oriundos da ditadura, conceitos
antiquados e retrógados para se formar pessoas para operar a segurança pública.
Então sem treinamentos humanos, como vão agir com humanidade? Se foram
treinados para serem violentos ou até para a guerra, então fica incoerente
outra postura.
Treinamentos
degradantes, extenuantes, escalas operacionais absurdas, baixos salários,
humilhações constantes, pressões internas para rendimento no trabalho, rendimento
físico, pressões psicológicas, pressões externas, ameaças sofridas por
criminosos, não valorização social, habitação em áreas de risco social, etc.,
só desfavorecem uma atuação coerente.
O
não investimento no funcionário só diminui sua autoestima e consequentemente
piora sua atuação policial. Onde estão os direitos humanos quando há massacres
de funcionários de segurança pública? Enfim, eles também são humanos, mesmo que
defendam o Estado. Eu penso que não há como agir sem violência se existem
treinamentos violentos. Entendo que não há como acontecer uma atuação policial
coerente sem uma proteção laboral. E não vejo como um profissional de segurança
pública atuar com serenidade com um sistema opressor como o militar em suas
costas, podando seus direitos e mais que dobrando seus deveres para com o
Estado.
Nesse
ponto defendo a posição de desmilitarizar as polícias e bombeiros militares de
nosso país. Não posso falar de outros, porque não conheço. Eu vejo no
militarismo um atraso para a organização dos estados. É lícito dizer que todos
os funcionários públicos estão subordinados ao Estado e a sua máquina pública, contudo
os militares tem que ser obedientes aos comandos estatais sob ameaça constante de
sanções graves, como prisões, punições disciplinares, e punições
administrativas. O órgão policial está subordinado ao Povo, representado pelo
governo eleito. E não deve ter a obrigação de seguir prontamente a toda e
qualquer ordem dita pelos grupos que estão no poder, e muito menos admitir toda
e qualquer exploração de seus profissionais e exposição a riscos
desnecessários. Mas são todos militares, logo, “azar militar”, tem que obedecer
sem questionar quaisquer ordens.
A
população está começando a enxergar que um grande mal faz a ela própria em
possuir uma policia militar. Esta que não possui o poder de contrapor ideias
impostas, já que são militares e tem que seguir ordens. Se fossem civis, ao
menos poderiam discutir a viabilidade das ordens impostas ao órgão policial.
Seus profissionais poderiam lutar por melhores salários, e por conseguinte, com
uma profissão valorizada, melhores cidadãos, e cidadãos mais humanizados vão
procurar as carreiras policiais.
Eu
percebo que todas as ações desproporcionais por qualquer funcionários de
segurança pública, no caso dos militares estaduais, que sejam policiais ou
bombeiros, advém da tradição militarista, que pode turvar a consciência de quem
convive com ela, imprimindo a esses cidadãos preceitos equivocados sobre a
realidade que o cerca. A força do militarismo é tão grande que muitos militares
estaduais tem um grande receio em expressar suas opiniões, um direito
resguardado pela CF/88, mas que parece que não existe nessas instituições.
Muitos militares atualmente são afligidos em sua dignidade, não tendo um
ambiente físico digno de sua função, não possuem equipamentos básicos de
segurança, não possuem equipamentos laborais atuais, não possuem treinamento,
ou os possuem, mas de forma anti-humanista. Vivem todos em uma ditadura
expressa. Mas que a população em geral não quer ver.
O militar estadual
não consegue lutar por seus direitos sem o auxílio da população. Mas para que
estes se emancipem, basta apenas retirar de sua alcunha o sobrenome “militar”,
que a partir de então fundarão sindicatos para impor uma pauta de
reivindicações, uma pauta de luta por melhores salários, uma luta por mais
dignidade. Isso porque, o reflexo de sua experiência constrangedora é na sua
atuação, e na sua relação com seu trabalho. O trabalho de um policial e de um
bombeiro deveria gerar orgulho para seus funcionários e suas famílias, e não
desmotivação. Desmilitarizando e abrindo espaço para que os direitos humanos
entrem nessas instituições, tenho certeza que ao menos o respeito para com os
funcionários de segurança pública aumentaria por parte dos governantes, e
consequentemente o poder de intervenção social da população se incidiria com
muito mais força perante essas autarquias
Nenhum comentário:
Postar um comentário