Kant, em seus escritos e na minha humilde capacidade de interpretá-lo, dentre muitos assuntos, trata de uma Filosofia Moral. Esta que basicamente centra sua discussão na libertação do homem do julgo de outras forças, para construir seus conceitos do que fazer ou não fazer, do que pensar ou não pensar, etc. Diz que a pessoa, para se emancipar de toda e qualquer interferência externa, tem que se basear em uma razão. A razão moral de Kant perpassa pelo pensamento autônomo do indivíduo.
Ser autônomo é pensar por si mesmo. Encontrar as respostas para suas ações dentro de si, avaliando se suas decisões correspondem a uma razão moral universalizante, isto é, se sua decisão cabe para outras pessoas ou situações, para que seja a mais acertada possível. A autonomia é a resposta do ser humano perante todas as formas de dominação de sua razão. O homem que a busca (autonomia) se liberta de influências externas, servindo a suas próprias opiniões que se forem acertadas, comungarão com as decisões de outros. Contudo a heteronomia seria alguém (pessoas, instituições, etc.) falando o que devemos fazer, o que devemos pensar e como devemos agir. E é nesse ponto que queria chegar, para comentar a heteronomia brasileira.
Meu comentário restringe-se à história recente do Brasil, da qual eu vivi e vivo. Choca-me muito, quando as pessoas, repetem as sentenças ditas por uma rede de televisão, ou de rádio, de jornais, etc. Mesmo que as informações sejam acertadas, o que mais me choca é a exatidão das opiniões proferidas, quase versículos, praticamente uma religião na qual as pessoas repetem literalmente o que a grande mídia diz. Engana-se aquele que possui o preconceito de achar que essa situação só atinge as classes marginalizadas, desprovidas de condições, quer seja financeira, estudo, quanto de tempo e objetivos (seu objetivo maior é garantir o mínimo para sua sobrevivência); essa situação encaixa-se em todas as classes sociais brasileiras, atinge muitos, desde ricos à pobres, desde doutores à analfabetos. As opiniões e os comentários diários recorrem às mesmas referências; E isso me choca, e sempre vai chocar.
Eu tento buscar minhas respostas pessoais sobre o assunto: preguiça, alienação, falta de instrução, história brasileira, resquícios da ditadura, etc. Não sei, ainda não consigo pensar em algum plausível. Entretanto entendo que acima disso tudo, existe uma situação, não só nacional, mas que também acontece em outros países, das pessoas só se preocuparem com seus respectivos círculos sociais, sua escola, sua faculdade, sua vida, sua família, seu trabalho, etc., esquecendo-se de interagir com outros indivíduos. E isso nos é posto a todo tempo, a grande mídia, um professor, um pastor, um padre, um pai, uma mãe, um irmão, dentre outros, todos nos dizendo o que devemos fazer ou pensar. Mas nunca que pensemos por nós mesmos!
Cada vez que lembro de Kant, recordo das pessoas que ouvem cegamente outras e aceitam seus comandos sem sequer algum questionamento. Não digo que não existam situações nas quais não é possível nem cabível uma reflexão, como por exemplo para se salvar de um desastre, quando alguma autoridade responsável quer orientá-la para uma situação de segurança pessoal. Pensar por si mesmo é primordial para se extirpar aqueles que querem se aproveitar de suas posições de poder, de sua eloquência, de sua instrução em detrimento do respeito e confiança que outros depositaram nele.
Busco, e entendo que todos deveriam buscar, o discernimento de suas ações. Uso Kant porque é o que meu conhecimento me permite no momento, no entanto, as pessoas devem ao mínimo se perguntarem o porque das coisas. Parece que o homem contemporâneo quer as repostas prontas, não quer buscá-las, querem um "fast-food" do conhecimento, um "supletivo" heteronômico. Ninguém quer encontrar as respostas consigo mesmo, e muito menos confrontá-las com outras.
In fine, talvez essa heteronomia brasileira seja um resultado de nossa situação social. Ou talvez não, pode ser que seja um movimento mundial. Ainda busco entender porque as pessoas se acomodam nas opiniões das outras, e não criam as suas próprias. Isso não significa que não devemos interagir com outros conhecimentos ou até integrá-los aos nossos (por exemplo dialogo com o que li sobre Kant), mas ao menos devemos nos perguntar se o que estão colocando para nós é realmente a verdade. Não desejo por exemplo, que o leitor ao ler meu blog, siga minhas ideias, mas que meus escritos auxiliem sua autonomia. Habermas diz: "Entre a felicidade e a liberdade, o homem moderno escolheu a liberdade."; e nós, contemporâneos, vamos escolher o que? Uma felicidade (ou falsa felicidade) heteronômica, ou a liberdade autônoma, na qual podemos pensar por nós mesmos? Eu prefiro a liberdade com todos os problemas que ela possui, porque graças a ela é que hoje estou escrevendo minhas ideias a partir da minha própria razão e vontade, e luto para que as pessoas ao menos perguntem: Por quê?
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