Li um artigo no blog dos
Advogados Ativistas intitulado: “A arte de utilizar qualquer argumento. A
retórica a serviço do ego.” (http://advogadosativistas.com/a-arte-de-utilizar-qualquer-argumento-a-retorica-a-servico-do-ego/),
e venho endossar as ideias por eles divulgadas. O uso indiscriminado da
retórica pelos operadores do direito no Brasil. As pessoas formadas com quem
tenho contato, e aqueles que se expõem nos meios midiáticos utilizam uma
linguagem impecável para se comunicar. Não é possível encontrar contradições quando
discursam. Entonações perfeitas. Sinceramente a argumentação jurídica
utilizadas por muitos é fascinante. Mas alerto, nem todas são benéficas para a
justiça.
Pergunto-me então, como seria
possível defender um criminoso confesso e ainda ser justo? Sim, é perfeitamente
possível. A justiça propõe que qualquer pessoa envolvida em um processo tem
direito ao devido processo legal, ao contraditório, a um juízo equânime, acesso
a assistência jurídica, dentre outros direitos. A justiça propõe que para além
desses direitos e pré-requisitos para que a mesma ocorra, o réu possua a sua
justa penalização, isto é, que sua sanção seja proporcional ao desvio que
cometeu, e que o autor da ação não seja apenas um vingador, mas que receba sua
justa composição em relação ao fato e que a lide seja encerrada.
Então é nesse momento que como no
artigo que outrora li, critico a atuação de certas pessoas que advogam pelo
simples motivo de vencer as causas que lhe foram atribuídas, independentemente
dos meios necessários a que se deva utilizar para tanto. Utiliza-se muitas
vezes de seu discurso elaborado, sua fala treinada, e da retórica que nem todos
dominam plenamente. Não se importam com a verdade dos fatos, e não contribui
para que se chegue a uma verdade possível no processo e muito menos que se
busque uma justiça palpável para a situação. Apenas busca vencer a causa,
inescrupulosamente se for necessário, pois foi designado para tanto. E se
estiver no lado adversário atuará de forma contrária aos argumentos que ele
mesmo possa levantar.
Isso me leva a crer a que o
direito se presta. Apenas opera-se o direito? Apenas utiliza-se da retórica
para resolver conflitos? Ou os operadores do direito tem o dever de zelar pela
justiça, independentemente da posição em que se propõe a assumir?
Realmente ainda não consigo
responder a tantas perguntas com uma certeza absoluta, mas tenho meus indícios.
Penso que dependendo da formação do jurista e de como ele se coloca perante ao
tecnicismo das leis, o mesmo pode se desaliar da criticidade e apegar-se ao
formalismo legal e seus silogismos. Um caminho obviamente mais fácil. Mesmo que
o melhor caminho seja o formal, ainda assim o jurista, penso eu, deve ungir-se
de criticidade para utilizá-lo, deve ser consciente a escolha.
Existem situações que nem direito
é necessário para se resolver uma lide, quiçá um jurista. Muitos conflitos
poderiam ser resolvidos com bom senso ou por uma autoridade local. Conflitos
mais simples podem ser resolvidos apenas com base na oralidade. E é aí que
encontra-se um grande perigo. Nesses casos, aquele que possua uma melhor
condição de orador e se utiliza melhor da retórica, pode ganhar vantagem sobre
outros. Infelizmente, o princípio da oralidade traz celeridade aos processos,
no entanto traz riscos também.
Os operadores do direito tem que
escolher uma posição crítica que para além de aplicar seus conhecimentos de
operador, deva defender a justiça, que é o se busca com o conflito de
interesses. Numa lide, procura-se alcançar uma resolução para o conflito
apresentado mais justa possível de uma forma que as partes não mais se
digladiem sobre o assunto e que o mesmo não possa mais ser suscitado em outra
ocasião. O principal objetivo de uma decisão é evitar a vingança pessoal e a
extensão do conflito para além dos limites que deveria.
Nesse momento crítico, em que o
jurista escolhe como se portar com seus conhecimentos perante as situações que
lhe são apresentadas, que muitos escolhem ser vaidosos. Acham que sua ideia
deva prevalecer, não assumem que todos que participam do processo estão
contribuindo para a busca de uma solução concreta, possível e não violenta para
um conflito qualquer. Esses são aqueles que só querem vencer, desde partes,
advogados, juízes, até a própria mídia, grupos de classes, autoridades, etc.
Seus egos devem ser abastecidos de vitórias judiciais, mesmo que prejudiquem a
justiça e que distorçam resultados.
Essa prática é perceptível no
direito desde a formação, quando professores adotam posturas narcisistas,
falando de si e de seus currículos, priorizando suas ideias, e argumentando a
partir do próprio discurso. Quando ignorando até os pressupostos teóricos,
elabora discursos equivocados, mas que assumidamente afirma que são os melhores
possíveis.
Enfim, juristas e futuro
juristas, devem traçar seus caminhos. Mas pensando como Kant, de forma
autônoma. E melhor ainda, criticamente, refletindo sobre suas ações. E isso
tudo sem esquecer para que o direito surgiu e do que ele trata e administra no
âmago de suas construções teóricas e práticas.
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